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A literatura afro-infantil: representação e representatividade

Professora e mestra em Educação e Escritora de literatura infantil e infanto juvenil afro-brasileira, Noelia da Silva Miranda de Araújo.


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A história de Noelia Miranda é marcada por orgulho, resistência e um profundo amor pela escrita. Mulher negra, afropataxó, filha de mãe indígena e pai negro, ela cresceu no interior do Espírito Santo, onde desde cedo descobriu a força das palavras ao escrever cartas para mulheres analfabetas de sua comunidade. Essa experiência mostrou a ela que a escrita tinha o poder de criar significados para além de si mesma e, assim, aos 9 anos, Noelia percebeu que escrever era uma forma de empoderamento.


Com formação em Pedagogia e mestrado em Educação, Noelia atua na Comissão de Estudos Afro-brasileiros e na Comissão de Educação das Relações Étnico-raciais da Secretaria de Educação de Vitória-ES. Além disso, ela é uma pesquisadora atuante no Neab-ufes (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal do Espírito Santo).


Ao longo de sua jornada, Noelia publicou diversas obras, incluindo quatro livros de literatura infantil e infantojuvenil, dois livros de pesquisas acadêmicas e participações em coletâneas de poesias ao lado de outras mulheres negras. Seus livros acadêmicos resultam de pesquisas desenvolvidas com professoras e lideranças quilombolas em Conceição da Barra, no ES.


A fundação da Editora Nsromma foi um marco importante em sua carreira. Após um golpe de uma editora em Belo Horizonte, Noelia e sua equipe decidiram abrir sua própria editora durante a pandemia. O objetivo era publicar suas próprias obras e dar voz a outros escritores negros, além de formar um público leitor para a literatura negra no Espírito Santo. O trabalho da editora também buscava aquilombar (unir) pessoas negras com potencial de escrita negra, rompendo com as barreiras históricas que negavam a representatividade negra na literatura infantil local.


Para Noelia, a representatividade é um tema crucial, mas também um conceito frequentemente deturpado. Ela destaca que a simples inclusão de corpos negros em narrativas não é suficiente para garantir uma representatividade autêntica. Muitas vezes, a branquitude apropria esse conceito esvaziando-o de seu significado real. Para ela, a verdadeira representatividade está em realçar as narrativas negras ancestrais, trazendo sonhos, encantamentos, musicalidade, axé e energia vital. Essa valorização da corporeidade e das raízes negras deve ser feita com coerência, força e resistência, proporcionando uma literatura infantil que respeite a ancestralidade e as identidades.


Noelia acredita que a literatura infantil pode desempenhar um papel fundamental na decolonização das mentes das crianças. Ela defende que a arte literária deve levar outras vozes, narrativas e formas de viver, sentir e estar no mundo. Para alcançar isso, é essencial educar crianças, sejam elas brancas ou negras, para que compreendam e valorizem as histórias de seus ancestrais e das diferentes culturas. A representatividade verdadeira ocorre quando as crianças se identificam e se conectam com as histórias que ouvem, enxergando-se como herdeiras de uma rica tradição cultural e não apenas descendentes de escravizados.


Em breve, a escritora lançará o livro "João, o menino que cria brinquedos", uma obra poética que ressuscita a criança que habita em cada um de nós.


Sua mensagem aos pais e mães é um convite para que contem suas próprias histórias e memórias de infância, culturas brincantes, cantigas, danças e vocabulários familiares. Ao valorizar e compartilhar suas experiências, eles estarão proporcionando uma base sólida para que seus filhos cresçam com amor e respeito pela diversidade. Através da leitura e da oralização de histórias, podemos educar crianças que apreciam e valorizam as diferenças, formando uma sociedade mais justa e acolhedora.


A trajetória de Noelia Miranda é um exemplo poderoso de como a literatura infantil negra pode ser uma ferramenta transformadora, capaz de romper barreiras, desconstruir estereótipos e construir um futuro mais inclusivo e diverso. Suas palavras e obras ressoam como um convite para que cada um de nós seja agente dessa mudança, promovendo a verdadeira representatividade e valorização das narrativas negras e ancestrais. A Escola de Elisas se orgulha de contar com uma voz tão importante e inspiradora na luta pela construção de uma literatura infantil mais plural e respeitosa.

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Noelia da S. Miranda de Araújo

Professora/Pedagoga. Atua na CEAFRO-CERER -SEME/PMV

Membra do Corpo Editorial da Editora Nsoromma

Especialista em psicopedagogia institucional

Mestra em Educação-PPGMP - Ufes e Membra do Grupo de Estudo: Educação das Relações Étnico-Raciais, Territorialidade e Novas Mídias - Ufes

Analista técnica de projetos em assuntos da Educação das Relações Étnico Raciais

Escritora de Literatura infantil e infanto-juvenil afro-brasileira



Para conhecer todas as obras escritas e publicadas pela Noelia e sua Editora, acesse: www.nsorommaeditora.com/


 
 
 

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